Ah, eu gostei e não gostei. Daí resolvi por aqui e perguntar para os coleguinhas. Se eles tiverem paciência...
Crônica Para a Mulher Amada
Antes de Júlia eu arrancava minha verdade às unhadas. Agora, estou apto a mentir, e não preciso mais do amor
Por Marcelo Mirisola
Júlia voltou a ligar.
– Oi, Marcelo.
– Faltou cheirar seu pescoço, Júlia.
– ...
– Pegar na sua mão. Sabe como é... abraçá-la e comer pipoca doce juntos. O que é o amor para você?
Antes de qualquer coisa, é melhor dizer o que eu penso a respeito. Para não complicar, vou falar no presente; que é o tempo do encantamento e/ou para sempre: sou a favor (ou era antes da Júlia... vai saber?) do amor à vista. Aquele que é resolvido no foro competente, em poucas horas... do tipo troca de interesses ou feminino mesmo. Lavou tá novo.
O amor também pode ser negociado a prazo. A diferença entre o primeiro e o segundo é a forma de pagamento. Neste último que, geralmente, inclui filhos, veterinário e pet-shop e que, às vezes, é oficializado na Igreja e no cartório, os amantes trocam interesses, tiram e pedem o couro e a alma uns dos outros em longas e tediosas prestações. Uma vida inteira pode ser trocada por um número de disk-pizza. Temos também o disk-sushi e as revistas femininas especializadas; que são variações (ou serviços) desta maneira esquisita de amar em conluio. O amor é um band-aid para uma ferida que não seca nunca. Os casais se revezam na feitura do curativo. O amor pode ser um jantar romântico ou uma viagem para a Costa do Sauípe em troca de uma semana de silêncio. Às vezes troca-se a felicidade e o sexo ao mesmo tempo por fidelidade e uma sogra a cada quinze dias. Sem falar em planos de saúde, dentistas trocados por condomínios atrasados, IPTUs e interesses infinitos trocados por outras bugigangas, atrocidades & afinidades eletivas. Quando se trata de amor não interessa a qualidade do que é trocado, mas o câmbio. A equação é simples. Ou: o sentimento mais puro e desapegado é apenas moeda mais valorizada em troca de... sentimentos puros e desapegados! Bingo! Eu, por exemplo, exigiria sexo oral e pensaria duas vezes antes de abandonar o programa do Ratinho para ver o novo filme do Almodóvar com Júlia. Isso porque valho por todo um “grupo de apoio”, sou um cara inteligente, fácil de enganar e até dispenso a ida aos estádios de futebol em dias de semana. Júlia sabe o que quer.
Antes dela, o amor gratuito só existia para mim em troca de uma idealização impossível e sempre encerrava-se em si mesmo: eu no banheiro covardemente me digladiando comigo mesmo, manietado literalmente num jogo de cinco sentidos voltados contra um: o bom senso. Antes de Júlia eu arrancava minha verdade às unhadas. Agora, estou apto a mentir, e não preciso mais do amor. Vamos lá, portanto.
Para quem não sabe, estou recolhendo os estilhaços que sobraram do cara que escreveu a crônica da semana passada, “Nada em lugar nenhum”. Tive uma semana para juntar as rebarbas das desilusões, comprar um CD do Altemar Dutra e oferecer um bolerão para vocês. Pensei em chamar esta crônica de Gardênia, mas não identifiquei o perfume da Júlia, nem quis saber de trocar signos com ela, tampouco vi seus cabelos molhados depois do banho... Digamos que mantivemos as distâncias protocolares antes e depois do ato em si.
Não sei qual é a dela e a única coisa de que me lembro é a primeira mulher dentre várias enfileiradas à beira de um precipício... Por acaso esta mulher era ela, Júlia. Voou. Eu fiquei lá, gratuitamente (apaixonado ou nem tanto: a conta do quilo chique foi de noventa reais); junto às outras Júlias, a contabilizar nossos sustos e assombrações comuns, com aquela impressão medonha de já ter visto algo parecido antes da queda. O amor, talvez. Ou o jeito que ela meneava a cabeça alegremente e falava de rompimentos como se escolhesse o devir entre alfacinhas metidas a besta e o badejo ao molho de pitanga do quilo chique.
Júlia não usava sutiã e os seus mamilos brincavam comigo de aparecer e desaparecer dentro da blusa de seda branca; não pensei em chamá-los de auréolos nem de chamar os seios de tetas, eram do tamanho médio para grande, alegres, para mim bastava tê-los assim. Na hora pensei na canção do Chico que fala do amor entre dois pagãos e na partida dos amantes “teu seio ainda em minhas mãos...” Mas deixei escapar o pensamento por causa do ôba-ôba que fizeram em torno de “Budapeste”, o livro dele e, principalmente, por causa da brincadeira de aparecer e desaparecer que já me descontrolava àquela altura. Daí contei umas lorotas sobre Hare Krishnas e Júlia adorou quando lhe revelei as nuances das várias encarnações de Buda aqui nesta terra de seios brincalhões. Foi quando me arrependi.
Comigo sempre acontece de me arrepender e/ou não saber onde pegar na mulher no primeiro encontro e, quase que mecanicamente, cometo a besteira de falar em demônios, fadas e vermutes e me arrependo logo em seguida. Via de regra isso é muito ruim, uma vez que a mulher (digamos: Júlia, neste caso ela e os dois seios alegres) está encantada e às vezes em pleno vôo... Nestas horas, cuspo a farofa, tenho uns achaques epiléticos e peço desculpas, esqueço completamente do que se trata. “Do que eu falava, Júlia?”
“De amor”, ela me corrige. Que mulher maravilhosa, esta Júlia. Ainda tem senso de humor.
Bêbada com uma só caipirinha de abacaxi e dizendo coisas para mim do tipo: “vim de Belo Horizonte, tenho dois seios alegres, uma gata chamada Sofia e duas tartarugas no aquário, Cida e Érika”.
Iríamos nos encontrar na feira da rua Mourato Coelho e fizemos juras de pasteis de queijo e palmito. Júlia exigiu caldo de cana e eu já via sua placenta estourando, um homem calvo e grave afastando os curiosos e estabelecendo os procedimentos do parto... Atrás da barraca de frutas eu me escondia e procurava saber do japonês imediatamente amparado por um estrado de caquis e mexericas, das notícias, como é que andavam “as coisas”. Tudo bem, ele me dizia: “Tudo bem, mas você tem que dar um palpite. Não é para isso que recebe o salário no final do mês?”
Sim, é claro. A menina, nossa filha, vai se chamar Marisa, em homenagem à Marisa que não me quis e, logo que pudermos, eu e Júlia vamos tirar umas férias em Ilha Bela... Se ela tem ciúmes?
Claro que sim, meu caro japa. Júlia é ciumenta e quer saber quem é esta tal de Marisa que não me quis. Mas isso eu não revelo. O que eu posso fazer é dar meus palpites. Vamos lá, aos palpites!
A máscara do PT caiu. Agora, o que mais choca não são os escândalos políticos, nem os juros que o Brasil paga para o FMI ou a rasteira que em breve o governo intentará contra o direito dos trabalhadores... corruptos e corrupção à parte, a miséria humana não é uma invenção do Zé Dirceu, nem a traição generalizada e a subserviência... A tal podreira estamos acostumados e somos mesmo um povinho carnavalesco de merda que merece bater bumbo até o dia do juízo final. O que mais choca é o fato de o presidente “corresponder” exatamente às expectativas criadas. O que um peão, corinthiano declarado e pagodeiro, poderia fazer diferente? A última foi pedir ao Duda Mendonça uma pesquisa de opinião sobre o dano causado à sua imagem por conta do caso Waldomiro Diniz. Se você, internauta, em vez de “correspondência” quiser ler “cronista preconceituoso”, continue votando nos políticos do PT, o problema aparentemente é seu e a situação tende somente a piorar. Azar de quem acreditou nisso. Além dos salões de beleza e das manicures incorporadas ao poder, temos que conviver com a arrogância de quem “subiu na vida” e cumpriu seu objetivo: que era "subir na vida". Só isso. Nem vou falar das metáforas do ilustríssimo senhor presidente da república, Luis Inácio Lula Da Silva, tenho vergonha.
Quer ouvir mais, japa?
Bem, prefiro acreditar que Júlia está apaixonada por mim e que a correspondência é verossímil, pelo menos da minha parte (da parte da ficção não ponho minha mão no fogo). O resto a gente reinventa, faz um filho e enterra. É isso aí. Um beijo no púbis, Júlia.
Crônica Para a Mulher Amada
Antes de Júlia eu arrancava minha verdade às unhadas. Agora, estou apto a mentir, e não preciso mais do amor
Por Marcelo Mirisola
Júlia voltou a ligar.
– Oi, Marcelo.
– Faltou cheirar seu pescoço, Júlia.
– ...
– Pegar na sua mão. Sabe como é... abraçá-la e comer pipoca doce juntos. O que é o amor para você?
Antes de qualquer coisa, é melhor dizer o que eu penso a respeito. Para não complicar, vou falar no presente; que é o tempo do encantamento e/ou para sempre: sou a favor (ou era antes da Júlia... vai saber?) do amor à vista. Aquele que é resolvido no foro competente, em poucas horas... do tipo troca de interesses ou feminino mesmo. Lavou tá novo.
O amor também pode ser negociado a prazo. A diferença entre o primeiro e o segundo é a forma de pagamento. Neste último que, geralmente, inclui filhos, veterinário e pet-shop e que, às vezes, é oficializado na Igreja e no cartório, os amantes trocam interesses, tiram e pedem o couro e a alma uns dos outros em longas e tediosas prestações. Uma vida inteira pode ser trocada por um número de disk-pizza. Temos também o disk-sushi e as revistas femininas especializadas; que são variações (ou serviços) desta maneira esquisita de amar em conluio. O amor é um band-aid para uma ferida que não seca nunca. Os casais se revezam na feitura do curativo. O amor pode ser um jantar romântico ou uma viagem para a Costa do Sauípe em troca de uma semana de silêncio. Às vezes troca-se a felicidade e o sexo ao mesmo tempo por fidelidade e uma sogra a cada quinze dias. Sem falar em planos de saúde, dentistas trocados por condomínios atrasados, IPTUs e interesses infinitos trocados por outras bugigangas, atrocidades & afinidades eletivas. Quando se trata de amor não interessa a qualidade do que é trocado, mas o câmbio. A equação é simples. Ou: o sentimento mais puro e desapegado é apenas moeda mais valorizada em troca de... sentimentos puros e desapegados! Bingo! Eu, por exemplo, exigiria sexo oral e pensaria duas vezes antes de abandonar o programa do Ratinho para ver o novo filme do Almodóvar com Júlia. Isso porque valho por todo um “grupo de apoio”, sou um cara inteligente, fácil de enganar e até dispenso a ida aos estádios de futebol em dias de semana. Júlia sabe o que quer.
Antes dela, o amor gratuito só existia para mim em troca de uma idealização impossível e sempre encerrava-se em si mesmo: eu no banheiro covardemente me digladiando comigo mesmo, manietado literalmente num jogo de cinco sentidos voltados contra um: o bom senso. Antes de Júlia eu arrancava minha verdade às unhadas. Agora, estou apto a mentir, e não preciso mais do amor. Vamos lá, portanto.
Para quem não sabe, estou recolhendo os estilhaços que sobraram do cara que escreveu a crônica da semana passada, “Nada em lugar nenhum”. Tive uma semana para juntar as rebarbas das desilusões, comprar um CD do Altemar Dutra e oferecer um bolerão para vocês. Pensei em chamar esta crônica de Gardênia, mas não identifiquei o perfume da Júlia, nem quis saber de trocar signos com ela, tampouco vi seus cabelos molhados depois do banho... Digamos que mantivemos as distâncias protocolares antes e depois do ato em si.
Não sei qual é a dela e a única coisa de que me lembro é a primeira mulher dentre várias enfileiradas à beira de um precipício... Por acaso esta mulher era ela, Júlia. Voou. Eu fiquei lá, gratuitamente (apaixonado ou nem tanto: a conta do quilo chique foi de noventa reais); junto às outras Júlias, a contabilizar nossos sustos e assombrações comuns, com aquela impressão medonha de já ter visto algo parecido antes da queda. O amor, talvez. Ou o jeito que ela meneava a cabeça alegremente e falava de rompimentos como se escolhesse o devir entre alfacinhas metidas a besta e o badejo ao molho de pitanga do quilo chique.
Júlia não usava sutiã e os seus mamilos brincavam comigo de aparecer e desaparecer dentro da blusa de seda branca; não pensei em chamá-los de auréolos nem de chamar os seios de tetas, eram do tamanho médio para grande, alegres, para mim bastava tê-los assim. Na hora pensei na canção do Chico que fala do amor entre dois pagãos e na partida dos amantes “teu seio ainda em minhas mãos...” Mas deixei escapar o pensamento por causa do ôba-ôba que fizeram em torno de “Budapeste”, o livro dele e, principalmente, por causa da brincadeira de aparecer e desaparecer que já me descontrolava àquela altura. Daí contei umas lorotas sobre Hare Krishnas e Júlia adorou quando lhe revelei as nuances das várias encarnações de Buda aqui nesta terra de seios brincalhões. Foi quando me arrependi.
Comigo sempre acontece de me arrepender e/ou não saber onde pegar na mulher no primeiro encontro e, quase que mecanicamente, cometo a besteira de falar em demônios, fadas e vermutes e me arrependo logo em seguida. Via de regra isso é muito ruim, uma vez que a mulher (digamos: Júlia, neste caso ela e os dois seios alegres) está encantada e às vezes em pleno vôo... Nestas horas, cuspo a farofa, tenho uns achaques epiléticos e peço desculpas, esqueço completamente do que se trata. “Do que eu falava, Júlia?”
“De amor”, ela me corrige. Que mulher maravilhosa, esta Júlia. Ainda tem senso de humor.
Bêbada com uma só caipirinha de abacaxi e dizendo coisas para mim do tipo: “vim de Belo Horizonte, tenho dois seios alegres, uma gata chamada Sofia e duas tartarugas no aquário, Cida e Érika”.
Iríamos nos encontrar na feira da rua Mourato Coelho e fizemos juras de pasteis de queijo e palmito. Júlia exigiu caldo de cana e eu já via sua placenta estourando, um homem calvo e grave afastando os curiosos e estabelecendo os procedimentos do parto... Atrás da barraca de frutas eu me escondia e procurava saber do japonês imediatamente amparado por um estrado de caquis e mexericas, das notícias, como é que andavam “as coisas”. Tudo bem, ele me dizia: “Tudo bem, mas você tem que dar um palpite. Não é para isso que recebe o salário no final do mês?”
Sim, é claro. A menina, nossa filha, vai se chamar Marisa, em homenagem à Marisa que não me quis e, logo que pudermos, eu e Júlia vamos tirar umas férias em Ilha Bela... Se ela tem ciúmes?
Claro que sim, meu caro japa. Júlia é ciumenta e quer saber quem é esta tal de Marisa que não me quis. Mas isso eu não revelo. O que eu posso fazer é dar meus palpites. Vamos lá, aos palpites!
A máscara do PT caiu. Agora, o que mais choca não são os escândalos políticos, nem os juros que o Brasil paga para o FMI ou a rasteira que em breve o governo intentará contra o direito dos trabalhadores... corruptos e corrupção à parte, a miséria humana não é uma invenção do Zé Dirceu, nem a traição generalizada e a subserviência... A tal podreira estamos acostumados e somos mesmo um povinho carnavalesco de merda que merece bater bumbo até o dia do juízo final. O que mais choca é o fato de o presidente “corresponder” exatamente às expectativas criadas. O que um peão, corinthiano declarado e pagodeiro, poderia fazer diferente? A última foi pedir ao Duda Mendonça uma pesquisa de opinião sobre o dano causado à sua imagem por conta do caso Waldomiro Diniz. Se você, internauta, em vez de “correspondência” quiser ler “cronista preconceituoso”, continue votando nos políticos do PT, o problema aparentemente é seu e a situação tende somente a piorar. Azar de quem acreditou nisso. Além dos salões de beleza e das manicures incorporadas ao poder, temos que conviver com a arrogância de quem “subiu na vida” e cumpriu seu objetivo: que era "subir na vida". Só isso. Nem vou falar das metáforas do ilustríssimo senhor presidente da república, Luis Inácio Lula Da Silva, tenho vergonha.
Quer ouvir mais, japa?
Bem, prefiro acreditar que Júlia está apaixonada por mim e que a correspondência é verossímil, pelo menos da minha parte (da parte da ficção não ponho minha mão no fogo). O resto a gente reinventa, faz um filho e enterra. É isso aí. Um beijo no púbis, Júlia.
8 Comments:
Nada pertinentes... eu concordo.
Acho que o cara escreve muitíssimo bem, e a maior parte do texto é muito bom.
No entanto, e digo que isto é uma questão de preferência minha, acho que isto seria bem melhor se fosse um conto e não uma crônica que se intercala com comentários nada pertinentes sobre a situação política do Brasil.
A parte sobre o amor e sobre a Júlia é foda.
Hum...
Cult demais...
A minha opinião é:
Hã?!
eu não tenho opnião definida sobre o texto
Juro que quando der tempo eu leio e dou uma opinião decente.
O começo parece bom.
eu não gostei.
Essa Julia....
Feliz dia das mulheres!
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