Romenos
Eu conheço um escritor romeno. É mesmo. Eu conheço
um escritor romeno. Vocês sabem, não é qualquer um que
conhece um escritor romeno. Tá certo, eu li em inglês.
Mas não á mesma coisa que ter escutado a nova música
daquela banda desconhecida da Nova Inglaterra que só eu
conheço. Só eu, entende? Claro que não! Vocês não
conhecem nada. Eu falei ontem mesmo com um cara que me disse
que tudo não passa de um filme B daqueles da década de 50
com o Robert Stack de ator principal. O Robert Stack tira
a camisa de flanela, camiseta branca por baixo, suada, e abraça uma atriz
loira numa cama fétida de um hotel barato num subúrbio de Chicago.
Tudo bacana. Tudo muito marginal. Maldito. Sujo. Romeno.
Eu fui num restaurante ontem. Não era bem um restaurante.
Era um bifê. Mas não era bem um bifê também.
Na verdade era uma lancheria. Mas tinha um bife. Que bife!
O bife era tão bom que decidi que se eu gostei não
deveria se chamar bife. Deveria ser flesh! Flesh Nouveau.
Cheguei em casa e preparei o bife com milhares de temperos
diferentes, vinho aos montes e muitas outras coisas que só se encontram
naquela venda romena onde um cozinheira canadense esconde suas receitas
alternativas de pratos extremamente desconhecidos e exclusivos.
Depois escrevi um livro de receitas, em romeno, comi uma
atriz da Globo, loira falsa de preferência, e comecei a ter uma coluna
semanal na Folha de São Paulo. A banda da Nova Inglaterra, que não
fica no Canadá, tem um som melancólico. Mas ao mesmo tempo pesado.
Instigante. É um Radiohead com timbres de Led Zeppelin, saca?
Mas sem deixar de ter aquela pegada, sabe? Romena.
Também lancei um livro de receitas pra comer atriz da Globo.
Primeiro, tenha um cargo importante. Segundo, coma. Terceiro, ela vira
atriz da Globo. A Globo vendeu novelas para a Romênia.
Agora vou poder assistir a todas elas no original. Em romeno.
Semana passada comecei a ler o Sidnei. O Sheldon, sacam?
Estou gostando. Estou gostando tanto que acho que ele só pode
ser romeno. Ou da Nova Inglaterra. Não sei como não tinha lido
nada dele antes. Ele é tão compulsivo. Tão vibrante. E ao mesmo
tempo carrega aquela dose de desespero da vida atual.
Aquele tédio de não saber o que fazer. Aquela melancolia da
Nova Inglaterra. Gostei tanto que vou até transcrever um trecho
pra vocês lerem:
"Ela não abriu as pernas. Ela não gosta de abrir as pernas.
Estava deitada de bruços. Fui roçando com a minha pica no rego
de sua bunda pra cima e pra baixo. Ela começou a dormir.
Tocou o telefone. Era o presidente. Eu disse que era impossível.
Que não tinha como. Que não era hora. Ele não quis saber.
Meia hora depois entrei na sala da empresa, sol nascendo,
um velho com um copo de uísque na mão me observando.
Eu sou teu pai, ele me disse. Respirei fundo. Acendi um cigarro.
Depois outro. Dei um soco no velho, rasguei suas calças
de velho, passei meu pau no seu rego enrugado de velho
e gozei em sua bunda caída de velho.
O presidente observava tudo em silêncio."
Sentiram a angústia do personagem? O sofrimento dele em relação
ao mundo que o cerca? Toda essa necessidade reprimida de uma
sociedade que vem aos poucos destruindo a individualidade e fazendo
com que as pessoas fiquem cada vez mais parecidas e insensíveis.
Que elas fiquem cada vez mais romenas.
Marcelo Benvenutti
Eu conheço um escritor romeno. É mesmo. Eu conheço
um escritor romeno. Vocês sabem, não é qualquer um que
conhece um escritor romeno. Tá certo, eu li em inglês.
Mas não á mesma coisa que ter escutado a nova música
daquela banda desconhecida da Nova Inglaterra que só eu
conheço. Só eu, entende? Claro que não! Vocês não
conhecem nada. Eu falei ontem mesmo com um cara que me disse
que tudo não passa de um filme B daqueles da década de 50
com o Robert Stack de ator principal. O Robert Stack tira
a camisa de flanela, camiseta branca por baixo, suada, e abraça uma atriz
loira numa cama fétida de um hotel barato num subúrbio de Chicago.
Tudo bacana. Tudo muito marginal. Maldito. Sujo. Romeno.
Eu fui num restaurante ontem. Não era bem um restaurante.
Era um bifê. Mas não era bem um bifê também.
Na verdade era uma lancheria. Mas tinha um bife. Que bife!
O bife era tão bom que decidi que se eu gostei não
deveria se chamar bife. Deveria ser flesh! Flesh Nouveau.
Cheguei em casa e preparei o bife com milhares de temperos
diferentes, vinho aos montes e muitas outras coisas que só se encontram
naquela venda romena onde um cozinheira canadense esconde suas receitas
alternativas de pratos extremamente desconhecidos e exclusivos.
Depois escrevi um livro de receitas, em romeno, comi uma
atriz da Globo, loira falsa de preferência, e comecei a ter uma coluna
semanal na Folha de São Paulo. A banda da Nova Inglaterra, que não
fica no Canadá, tem um som melancólico. Mas ao mesmo tempo pesado.
Instigante. É um Radiohead com timbres de Led Zeppelin, saca?
Mas sem deixar de ter aquela pegada, sabe? Romena.
Também lancei um livro de receitas pra comer atriz da Globo.
Primeiro, tenha um cargo importante. Segundo, coma. Terceiro, ela vira
atriz da Globo. A Globo vendeu novelas para a Romênia.
Agora vou poder assistir a todas elas no original. Em romeno.
Semana passada comecei a ler o Sidnei. O Sheldon, sacam?
Estou gostando. Estou gostando tanto que acho que ele só pode
ser romeno. Ou da Nova Inglaterra. Não sei como não tinha lido
nada dele antes. Ele é tão compulsivo. Tão vibrante. E ao mesmo
tempo carrega aquela dose de desespero da vida atual.
Aquele tédio de não saber o que fazer. Aquela melancolia da
Nova Inglaterra. Gostei tanto que vou até transcrever um trecho
pra vocês lerem:
"Ela não abriu as pernas. Ela não gosta de abrir as pernas.
Estava deitada de bruços. Fui roçando com a minha pica no rego
de sua bunda pra cima e pra baixo. Ela começou a dormir.
Tocou o telefone. Era o presidente. Eu disse que era impossível.
Que não tinha como. Que não era hora. Ele não quis saber.
Meia hora depois entrei na sala da empresa, sol nascendo,
um velho com um copo de uísque na mão me observando.
Eu sou teu pai, ele me disse. Respirei fundo. Acendi um cigarro.
Depois outro. Dei um soco no velho, rasguei suas calças
de velho, passei meu pau no seu rego enrugado de velho
e gozei em sua bunda caída de velho.
O presidente observava tudo em silêncio."
Sentiram a angústia do personagem? O sofrimento dele em relação
ao mundo que o cerca? Toda essa necessidade reprimida de uma
sociedade que vem aos poucos destruindo a individualidade e fazendo
com que as pessoas fiquem cada vez mais parecidas e insensíveis.
Que elas fiquem cada vez mais romenas.
Marcelo Benvenutti
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